sábado, 21 de setembro de 2013

me acomodei aos cômodos
deixei a casa cheirando choro
ela ainda tem tua alma mansa
e um pouco do teu consolo
meu rosto envelheceu
como os móveis da sala de estar
meus lábios antes eram festa
hoje mais parecem morbidez
assim como os antigos domingos
frios e chuvosos no nosso quintal.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O café esfriou

As pessoas esfriam
por falta de liberdade
da expressão que traz calor
das palavras guardadas
que emocionam ou viram dor

as pessoas esfriam
por falta de afeto
por diálogos incompletos
pela frieza que a vida tem.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Todos pagam algum preço


eu paguei para ter o pão de centeio
para ter a sorte, o verso, o marinheiro
paguei para mentir, sorrir, para ter dinheiro
paguei a fundo, paguei para o mundo inteiro
paguei para colher, plantar e rezar
para chorar, comer e cantar
paguei para errar ou acertar
paguei para morrer
antes disso, paguei para enterrar.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A vida e suas certezas



Nem sempre o café na mesa
A presença do pai
Um beijo na testa

Nem sempre uma crença
Um terço ou uma reza

A vida que queremos
Nem tudo que nos resta

Nem sempre um leve choro
Desabafo ou suspiro
Às vezes um lamento
Certeza do momento
Fatalidade, suor e grito.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Quem desenhou?

Quem desenhou em ti
tristeza tamanha e sem cor?
você acordou tão cedo
não colocou o café na mesa
e nem o cabelo penteou
onde está a sua glória? firmeza? vitória?
em quais caminhos você as deixou?

domingo, 1 de setembro de 2013

A carne e seus problemas

Da janela do meu apartamento pude ver o universo frenético. Pessoas fantasiando suas vidas com problemas. Algumas ficavam elegantes, porém doloridas. Outras mantinham-se cômicas e inquitas. Rostos cansados, mãos trêmulas e corações acelerados. O cheiro de gente dentro do ônibus e o gosto de sangue por entre as carnes. O menino perdeu o cachorro. A mulher, o marido. A mãe grita a morte do filho. O pai abusa sexualmente de sua filha. O moço ganhou as contas no trabalho. A menina chora de saudade da família. Avó Neusa morreu engasgada com um pedaço de maça. Da janela do meu apartamento podem ver uma garota miúda, arisca, fantasiada e cheia de segredos . Um deles, é a sua vontade de moer todos os problemas, assim como fazem com as carnes para serem moídas no super mercado.

Ninguém como você

Era você que mergulhava
nos meus fatos cotidianos
me acompanhava com graça
fazia da vida nossos planos
a minha rotina estagnada
você convertia em tango
as vezes em uma lambada
era você que transformava
meu coração que hoje é luto
em um pleno carnaval
naquele eterno mês de julho.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O ballet de Luara



Era sábado em 1987. Eu estava perplexa e nostálgica a olhar as sapatilhas que há anos não me serviam mais.
Eu já fui contida e contente, carregava em mim o estômago dum passarinho filhote. Infelizmente me tornei um cão ansioso, e muito comilão, assim o pesadelo começou.

Gosto de almoçar na casa da avó Marta, lá posso comer o que quiser, na hora que quiser. Embora eu tenha perdido o corpo de bailarina e já estar acima do peso, ela diz que devo comer bastante, sem beira. Ela acha que um dia vou parir à beça e por isso preciso de gordura suficiente para suprir os culotes e todas essas coisas biológicas.
 Então, cá estou comendo pela segunda vez e meia o cardápio do almoço; macarrão, maionese, frango assado com farofa e azeitonas. Me lambuzo inteira, o óleo da comida me completa. Até chegar à sobremesa. Poxa, como eu gosto das sobremesas. Na hora que avó grita “Olha a sobremesa” eu posso ouvir ” Olha essa surpresa”, apesar de não ser surpresa, pois, eram sempre as mesmas nos domingos; aquela gelatina colorida, o pote de sorvete, e o pudim. Eu moraria naquele pudim, um mundo de pudim. Eu, a rainha do pudim.
Os meses vão, as roupas vão, os domingos na avó Marta apenas chegam, e os quilos também. Mas não pense que eu só como na casa da avó. Adoro comer em casa, escondida. Pelo menos, adorava. Até a mãe colocar cadeados nos armários das guloseimas e até nos das comidas. Ela quer começar a ser severa e limitada.
Mas logo agora, mãe? Que me tornei essa típica gorda, suada e com dobrinhas?
Ela diz que estou doente, meu colesterol aumentou e a arritmia também.
Os dias, as horas passam, e tudo se transforma numa batalha, na qual estou começando a ter coragem de vencer. A mãe me colocou na academia, mas quando não quero ir porque tenho que estudar, ela diz que continuo a gorda preguiçosa, e às vezes quando quer me fazer chorar, repete centenas de vezes que cheiro a gordura. Imagino que o meu cheiro é o mesmo dos bolinhos de chuva da tia Célia. Meu coração dói.
Começo levar tudo muito a serio, perdi quilos na academia, perdi mais quilos naquele mundaréu de alfaces perdidos no prato. Estou ficando magra, minha vida também. Agora cheiro a flores.  Tudo está ficando leve e muito fino. Minhas roupas, agora, são tamanho infantil, meu pé emagreceu e já não tenho sapatilhas que se ajustem ao meu número de calçado.
A avó Marta está desesperada, enche os olhinhos de água quando me vê rejeitar a sobremesa ou comer um pedaço de frango e ir direto ao banheiro. Ela diz “Como você está miúda, Lua”.
Pelo meu manequim 34, minha altura 1,65 acompanhada do meu peso 38, não posso mais dançar Ballet, a médica me contou que meus ossos estão fracos, minha imunidade baixa e não tenho mais forças nos meus braços e nas minhas pernas. Apesar dos pesares e da luta constante contra a vontade de poder comer meus chocolates e as minhas coxinhas de frango, não vou ganhar peso, pois, não quero mais cheirar a gordura.

Hoje é sábado em 1987... E que saudade das minhas sapatilhas.

sábado, 3 de agosto de 2013

Confissões de Anitta



mais pareço cúmplice do que Anitta
quando o molhado do meu choro
seca na manga da minha camisa
que tem a cor da primavera
e o cheiro da tua brisa.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Ornitofilia e amor

Havia uma pedra no meu sapato. Pelo menos a pedra não era no meio do caminho, como a de Drummond. E se pedra for elogio do poeta? E se pedra virar flor? e se flor virar pedra? Cícero me chamava de flor “Minha flor, minha Lírio, meu dente de leão.” Se em todas as flores surgisse à salvação? Se na vida de Cícero eu for flor, e no fim da história eu virar pólen? Quero ser pólen esperança. Cícero pode ser o passarinho, nossa gloria seria misturar Ornitofilia e amor, pelos mundos e fundos, cantos e encantos.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

no fim das contas
nunca fico sozinha
poesias me visitam
nas minhas largas noites
nos meus estreitos dias

Um mundo nas costas

Sou uma moça 
vivendo sinestesia
vomito palavras
quero tatuar na alma
mil e uma fantasias
temo uma mania
de querer levar 
o mundo nas costas
sendo que o meu corpo
nem um coração suporta.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Vez do erro

Vou usar um sapato que não me sirva
vou teimar no meu jeito errado de errar
dane-se os métodos, vou riscar o certo
vou provar que o erro é mais esperto

terça-feira, 16 de julho de 2013

Sardas iluminadas

Depois de uns minutos, levantou a cabeça que afundara no travesseiro, seus olhos pequenos afogados em cílios claros e lágrimas. Assim, Estela buscou a luz. Com a ferocidade de um animal a sua presa, com a piedade de uma alma suja e pesada, ela olhou prum espelho, logo ali, em frente a cama. Um rosto numa vermelhidão, as sardas que cobriam o nariz pareciam mais grãos de areia e a língua ruiva umedecera os lábios. Respirou e discursou: "Deus, até quando?"
Seu erro foi dar passos
maiores que os seus sapatos
e depois compreender 
que a felicidade 
anda descalço.

Destemido

não dizer
o que sinto
faz sentido
quando tudo 
é destemido
quando paro
de temer

domingo, 16 de junho de 2013

Se soubesse
que a vida seria
esse caralho inato
que viveria de quatro
no putero da Valdira
mudaria essa novela
continuaria óvulo
e esperma
mas esses dois fatores
não fecundaria.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Nessas muitíssimas faces
ousei te procurar
errei de diversas maneiras
ao mergulhar nesse balde
de mil e uma facetas
apenas, para te apedrejar
jurei rir para não chorar
me emboscar, dormir, sonhar
escrevi seu nome
numa distancia infinita
para num longo sopro de vida
nunca mais te encontrar.

Morte em vida.



Preciso te lembrar
que seu lugar no sofá está vazio
te espero com um vinil
e um postal do Rio
não posso me esquecer
que nos últimos dias
o poema que recito
é a dor que mais sinto
parece até sina
me persegue até em rima
quem morreu fui eu ou você?

segunda-feira, 4 de março de 2013

Dor da ida

Deixei o casaco pendurado
no cabide lá de cima
me veia na cabeça
por incrível que pareça
a dúvida da dor.

Qual situação seria mais dolorida:
perder alguém para a morte
ou perder alguém para a vida?

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Viver é sina





Dádiva cruel
que resume a alma
escrevendo poema
no papel.



A vida passa por cima
deixando marca
trauma ou rima



Ela ri dos meus tombos
torce o nariz pros sonhos
a vida é sina.




terça-feira, 22 de janeiro de 2013

le femme

Faça a cabeça de alguém
que o resto vem

solte o cabelo
passe o batom vermelho


mulher com charme
é poesia









Você parece poesia
Não sei se ia ou vinha
faz melodias
borda meu ego
faz de ti o que eu queria
e quero hoje e sempre
você parece conto
elogiando sempre meu encanto
e canta devagarinho no meu ouvido.


segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Do it


E o que fizeres de novo
haverá sempre um rosto
aplaudindo
e gritando com gosto

"Eu gosto"

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Todas as coisas que você já leu
E todas as coisas que já falou e cantou
todas alegrias escorreram pelo ralo da vida

A pessoa que fez sentido
hoje já não está
e você só saberia suplicar

"Eu preciso de você mais perto."